sábado, 30 de janeiro de 2010

O MELHOR ALUNO


Virtudes era uma docente que tinha a seu cargo 56 crianças.
Um dia, um dos meninos, Apolinário Sousa, chegou a casa com uma notinha da professora que assegurava aos pais que o seu filho era o melhor aluno da turma.
No dia seguinte, outro menino levou para casa uma nota semelhante e assim outro menino e mais outro, até que os 56 meninos tinham levado para suas casas a mesma mensagem da professora que assegurava aos pais que o seu filho era o melhor aluno.

E nada teria acontecido se o farmacêutico ao receber a notícia tivesse reagido como os outros pais.
Contrariamente aos restantes, este decidiu fazer uma grande festa e escrever uma carta à professora Virtudes na qual a convidava a ela e a todos os meninos e as suas famílias para o sábado seguinte.
Armou-se um grande reboliço.
Cada menino comentou em casa e, como acontece sempre com gente simples, ninguém faltou à festa e todos estiveram dispostos a divertirem-se.

A meio da reunião, o boticário pediu silêncio para anunciar a razão do festejo: tinha-os reunido para lhes comunicar que o seu filho tinha sido nomeado, pela professora, o melhor aluno da turma.
E convidou-os a todos a brindar pelo seu filho que tinha honrado o seu pai, o seu apelido e o seu país.

Ninguém ergueu a taça; contrariamente ao esperado ninguém aplaudiu.
Os pais começaram a olhar uns para os outros bastante sérios; o primeiro a contestar foi o pai de Apolinário Sosa que disse que não brindava porque o “único melhor” era o seu filho.
Imediatamente, já o pai de uma menina se aproximava para agarrar no Senhor Sosa dizendo-lhe que a “única melhor” era a sua filha.

Começaram os gritos, os insultos, as disputas.
O pior foi que começaram a acusar a professora como a responsável daquele conflito. Um pai disse: - Aqui a responsável de tudo é a Profª Virtudes que mentiu; disse a todos os pais o mesmo: que o nosso filho era o melhor aluno.
E Virtudes, que até esse momento tinha permanecido calada, tomou a palavra e disse:

- Eu não lhes menti e vou dar-lhes exemplos de que o que digo é verdade: Quando digo que Apolinário Sosa é o melhor aluno não minto, porque ainda que seja desordenado, é o mais disposto a ajudar no que for preciso.
Também não minto quando digo que aquele é o melhor em matemática, mas não é exatamente muito diligente.

E aquela que é uma lutadora de primeira é a melhor a escrever poesias.
E aquele, que é pouco hábil para a Educação Física, é o melhor aluno em desenho. Devo continuar a explicar?
Não entendem?
Sou a professora de todos e devo construir o mundo com estas crianças.
Pois então, com o que levantarei a sociedade, com o melhor ou com o pior?

Pouco a pouco, cada pai foi procurando o seu filho.
Os mais velhos estavam muito sérios, os pequeninos, pelo contrário, estavam todos contentes.
Pouco a pouco cada pai foi olhando para o seu filho com olhos novos porque até agora tinham visto, sobretudo, os defeitos.
Os pais foram compreendendo que cada defeito tem a sua virtude que lhe faz contra peso e que é necessário destacar, sobressair e valorizar.
O boticário, que era o organizador da festa rompeu o silêncio e disse:
- Bom, a comida já está preparada e devemos multiplicar este festejo por 56.
(In, M Santos Guerra, No coração da Escola. Porto: ASA

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