terça-feira, 10 de julho de 2007

Praler e meditar

Graças a Deus

As lendas tem um sabor especial.
São elas que embalam a infância, tecem encantos na juventude,
na maturidade acordam saudades.Por isso, são sempre evocadas, seja qual for a idade, a época e o povo.De uma venho falar-vos hoje, que não sendo real, não é fictícia na sua totalidade.É das que poderíamos dizer um misto de ideal e real.Foi há muito tempo, há tanto tempo que a sua contagem se perdeu, em certo lugar do Oriente,
–– onde as montanhas são mais altas que todas, e cujos os cimos, de neve eterna coroados,
tornam-se minaretes do mundo –– que isto se deu.Na encostas dessas montanhas, reinava a Paz bucólica, a fartura e a fraternidade.Havia nesta aldeia pequenina alguns moradores que viviam de cultivar as oliveiras,
os cereais, criar rebanhos nesse trato constante com a terra, os seres e as coisas.Os recursos davam para uma vida simples, sem riqueza, porém farta.
Um pouco distante do povoado, morava um mendigo que tinha uma filha.
Cego, já não podia ele esmolar e era a sua única filha incumbida desse mister.
E lá ia a menina, manhãs seguidas, buscar em cada casa aquilo que a bondade sempre lhe reservava.
Aqui uma tigela de leite de ovelha, lá um pão de trigo nutritivo, além de um pouco de azeite,
um bocado de lentilha, enfim, tudo quando servisse de alimento.
E não faltava também quem, em chegando o frio, não reservasse uma manta usada,
um capote que trouxesse aconchego a ambos, pai e filha.Gratos eram eles, E noite de sua cegueira o velho orava ao Senhor por quantos viviam sol,
na benção do trabalho e sob as estrelas, no caminho do sonho.
E a filha achava sempre ao alcance da mão, um ramo de flores silvestre, destas que bordam as estradas,
para ofertar às mãos que se estendiam para lhe suavizar a miséria.
Nunca sentira recalques, vendo que os outros tinha tudo e ela nada possuía.Ah! Quão diferente de tantas criaturas, que tudo possuem e não sabem agradecer
e até desdenham o que tem, porque outros possuem mais !Voltemos ao assunto.Um ano, triste aquele, a neve que era motivo de admiração
de quantos viviam naquela aldeia da encosta da montanha,
achou que deveria cair mais duramente.
E não foi só isso. Uma leva de estranha gente aportou ao lugar, presa de moléstia aguda.
Desconhecido o mal, foi difícil debela-lo.
Muitos sucumbiam e os que foram poupados viram-se a braços com enormes dificuldades,
além das forças que começavam a falir.Por alguma razão, o cego e a filha escaparam.
E quando passou a tormenta, era de ver-se o lastimável estado moral
em que tantos se encontravam, em face do aniquilamento.Foi então que a menina pobre mostrou toda sua energia, a sua gratidão e o seu valor.
Em resposta às dolorosas interrogações que partiam dos desencorajados, dizia ela:Não temas. A mim nunca faltou nada.
O meu celeiro estava em vossa casa.
O vosso estará comigo. Irei como outrora fazia para mim e meu pai,
buscar para todos vós, até que tenhais forças para iniciar o trabalho de recuperação.E dizem que, pelas manhãs douradas, saía ela pelos caminhos,
na gloriosa tarefa de mendigar para aqueles que, em outras eras tinham possuído algo.
E conta ainda a lenda que nos caminhos por onde ela andava
seus passos fizeram desabrochar Lótus, cuja a visão encantava os caminhantes.E seu nome se tornou como um símbolo, só para aquele povo, como para todo o Oriente.
E quando alguém se referia ao episódio, logo à mente vinha um nome,
como fulgurações estelares, traduzindo gratidão.
Esse, o retrato fiel da alma daquela humilde menina."Que o amor único de Deus inspire todas as almas para o Bem!”Graças a Deus.
Antônio de Aquino.

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